A profissão do Intérprete em contexto escolar existe devido às necessidades
dos alunos surdos, que se veem privados da informação quando inseridos numa
escola pública (Metzer, M 2004). O intérprete surge assim nas escolas com o
objetivo de responder às falhas de comunicação existentes entre professor e
aluno, uma vez que existem dois códigos linguísticos distintos: a língua
portuguesa (LP) e a língua gestual portuguesa (LGP), que é um sistema
linguístico natural da comunidade surda, constituído pela combinação de gestos
simbólicos e materializados em movimentos realizados com as mãos, os braços, a
face e o corpo e percebidos visualmente (Sim, Sim 1998). É de fato uma língua
como outra qualquer que contém a sua regra, estrutura, com sintaxe e morfologia
próprias. Assim a função do intérprete qualificado no contexto de sala de aula,
é fazer a ponte de ligação entre o aluno surdo e o professor ouvinte, ao
traduzir de uma língua para outra, e vice-versa. Acompanha o aluno em todas as
aulas e atividades em que estão inseridos como uma ponte de comunicação entre
toda a comunidade escolar, não podendo confundir o seu papel como o de um
professor de apoio. O intérprete trabalha em conjunto com o professor titular
da sala de aula.
Segundo Quadros, o Intérprete deve ter um perfil para poder
intermediar relações entre todos os que fazem parte de uma grande comunidade
escolar (surdos e ouvintes). Porém e devido a certas situações e ao tipo de
intervenção que surge por parte do intérprete, muitas vezes o seu papel acaba por
ser confundido por todos os elementos que estão dentro de uma sala de aula.
Duarte. L e Quadros referem que o aluno surdo espera que seja o intérprete a
corrigir ou a validar uma pergunta, enquanto o professor de turma delega no
intérprete a função de ensinar conteúdos programáticos aos alunos. (Quadros,
2007) refere que a obrigação de ensinar e transmitir os conhecimentos e
conteúdos programáticos é sempre, da responsabilidade do professor. Assim e
segundo (Johnson e Johnson 1999) nos indica, ao professor compete definir objetivos
de trabalho, tomar decisões e realizar preparativos necessários à aprendizagem,
motivar os alunos e explicar os procedimentos de modo a promover a autonomia do
aluno.
A função do Intérprete é descodificar essa informação para a língua
gestual. Somente, nesta perspetiva o intérprete é reconhecido como um mecanismo
crucial, através do qual o Surdo obtém igualdade de acesso à informação, ao
mesmo tempo que os seus colegas ouvintes dentro do contexto escolar. (…) Tendo
em conta que a educação é um direito de todos, e é de frequência obrigatória,
todos os meios, técnicas e métodos devem ser utilizados para que todos os
alunos, e neste caso os surdos, possam aceder aos diversos conteúdos
programáticos e poder assim garantir o sucesso escolar, situação que o D.L. nº
3 de 2008 enuncia.
Podemos então dizer que os grandes alicerces na construção
da educação, como já foi dito, são os professores de LGP, professores ouvintes,
professores de apoio, intérpretes, terapeutas da fala e psicólogos. A presença
do Intérprete em sala de aula abre a possibilidade ao aluno surdo de receber
informação escolar e, ao mesmo tempo, o professor ouvinte pode dar as suas
aulas sem se preocupar em como passar a informação em língua gestual. Todavia
(Wilcox, 2005) alega, que não obstante a presença do intérprete, não significa
que a aula deva ser dada toda como se as pessoas fossem todas ouvintes, supondo
que a matéria está a ser completamente entendida. O intérprete é apenas o
profissional da tradução e interpretação dentro da sala de aula e a sua
responsabilidade é de atuar como profissional. Os alunos também necessitam ser
competentes na sua própria língua, caso contrário, a utilidade do intérprete
deixa de existir. (…)
A maior parte das pessoas não compreende o trabalho do
intérprete e não realiza o cansaço psicológico e físico que ele vive. É uma
tarefa que envolve trabalho com diferentes pessoas, de níveis linguísticos e
estratos sociais diferentes, em diferentes contextos aos quais tem sempre que
se adaptar, de acordo com o seu código de ética, em relação ao ponto que refere
a “flexibilidade”.
Tal como outro profissional o intérprete de LGP, rege-se por um código de ética e por linhas de conduta sendo que dentro da
sala de aula tudo o que se diz tanto por alunos como pelo professor é sigiloso,
é um princípio do código refente ao ponto sobre a “confidencialidade”.
O intérprete é a pessoa que contribui para que o “surdo ouça com os olhos e
fale com as mãos” (Jerónimo Cardan, séc. XVI)
Por conseguinte é importante compreender que o campo da tradução do
Intérprete é bastante diversificado, tendo em conta, que a sua formação não
implica qualquer tipo especialização nas diferentes áreas, que o âmbito do seu
trabalho engloba: justiça, política, saúde, entretenimento, desporto, ensino,
conferências, e outros serviços. O objetivo da tradução é fazer com que haja
uma equivalência semântica, entre a linguagem que se quer traduzir e a língua
final, (Almeida, J., 2000), mas nem sempre é possível fazer com que a tradução
seja o mais fiel possível, cabe ao intérprete, ciente das culturas envolvidas,
saber adaptar o seu discurso.
Autor: Sónia Ramos
Tese de Mestrado: O intérprete de língua gestual
portuguesa na comunidade surda: o papel do intérprete na perspectiva do aluno
surdo
Intérprete de LGP na Escola
Terras de Larus
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